Professores
pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), campus de
Juara, salvaguardaram, nessa semana, um achado paleontológico da megafauna
brasileira extremamente relevante para a comunidade científica e para o
patrimônio nacional. Trata-se de arcadas dentárias que sugerem ser,
preliminarmente, de Mastodonte, animal extinto na última era do gelo. O achado
permanecerá sob a guarda permanente da UNEMAT/Museu do Vale do Arinos.
De
acordo com Saulo Augusto de Moraes, professor pesquisador da UNEMAT e diretor
do Museu do Vale do Arinos, “os achados de artefatos paleontológicos da
megafauna brasileira são fundamentais para desvendar a história evolutiva,
ecológica e climática do continente sul-americano, oferecendo insights valiosos
sobre a biodiversidade extinta e suas interações com o ambiente. Esses fósseis,
não apenas revelam a riqueza de espécies que habitaram o Brasil durante o
Pleistoceno, mas também permitem reconstruir ecossistemas passados, entender
processos de extinção em massa e analisar como mudanças climáticas drásticas impactaram
a vida no planeta”.
De
acordo com o professor pesquisador e diretor da UNEMAT, campus de Juara, Jairo
Luís Fleck Falcão, “do ponto de vista científico, esses achados fortalecem a
paleontologia nacional, posicionando o Brasil como um laboratório natural para
pesquisas globais, enquanto, culturalmente, eles resgatam a identidade
histórica regional, transformando-se em símbolos educativos que inspiram
conscientização ambiental e orgulho patrimonial. A preservação desses artefatos
também é vital para enfrentar desafios contemporâneos, como a crise climática,
já que o estudo de respostas ecológicas do passado auxilia na previsão de
cenários futuros. Contudo, a degradação de sítios paleontológicos por
atividades humanas e a falta de investimentos nas universidades públicas, em
pesquisa científica e em museus ameaçam esse legado, tornando urgentes
políticas públicas que garantam a proteção, o estudo e a divulgação desses
tesouros científicos, que são patrimônio não apenas do Brasil, mas da
humanidade”.
O trabalho de resgate contou com a participação de indígenas Munduruku, especialmente o estudante da Unemat e bolsista vinculado ao Museu do Vale do Arinos, Bergson Kirixi Munduruku. Neste ponto, os profissionais citados argumentam sobre a importância de parcerias efetivas entre universidade pública, museu e povos indígenas para a preservação, estudo e valorização dos artefatos paleontológicos da megafauna brasileira, especialmente em regiões onde comunidades tradicionais têm contato direto com esses vestígios. A participação ativa dos povos indígenas na curadoria de acervos, como ocorre no Museu do Vale do Arinos, inaugurado em 2018, representa um avanço significativo nesse sentido, garantindo que descobertas feitas em territórios indígenas sejam imediatamente comunicadas a pesquisadores vinculados a instituições acadêmicas. Também frisam a importância do modelo jurídico inovador do Museu do Vale do Arinos, que assegura legalmente a participação indígena em processos museais e de gestão curatorial, que, além de evitar a perda de artefatos paleontológicos e arqueológicos, frequentemente expostos a riscos como saques e degradação ambiental, promove uma guarda mais cuidadosa e contextualizada, respeitando a relação cultural que essas comunidades mantêm com a terra e seus elementos históricos.
Ao
incluir povos indígenas, o Museu do Vale do Arinos reconhece seus papeis de
guardiões do patrimônio, transformando-os de meros "encontradores" em
protagonistas da preservação, o que fortalece a confiança mútua e protege o
patrimônio paleontológico – e arqueológico – nacional. Além disso, essa
colaboração enriquece a pesquisa acadêmica, pois os conhecimentos tradicionais
sobre a paisagem e os ciclos naturais complementam análises técnicas,
oferecendo novas perspectivas sobre a distribuição e o significado ecológico da
megafauna extinta. O sucesso do Museu do Vale do Arinos, cujos acervos foram em
grande parte construídos por contribuições indígenas (incluindo-se povos do
Parque Indígena Xingu), demonstra que a integração entre universidade, museu e
povos indígena é um caminho viável para combater o tráfico ilegal de fósseis e
de materiais arqueológicos, assegurando que descobertas sejam devidamente
protegidas, estudadas e disponibilizadas à sociedade brasileira e
internacional. No entanto, para que essa iniciativa inspire políticas públicas
mais amplas, é urgente que governos (municipais, estaduais e federal) e
agências de fomento ampliem investimentos para que não se dependa apenas de
voluntarismo, mas consolide prática institucionalizada, capaz de proteger o
patrimônio nacional como herança coletiva de todos.
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