quarta-feira, 13 de julho de 2022

Em ano eleitoral Governo de Mato Grosso decide que professores de inglês devem pagar pela formação continuada.

Um verdadeiro presente de grego, essa é a melhor definição para o programa “Mato Grosso mais Inglês” implementado pela SEDUC-MT em 2022. O programa que visa capacitar os professores de língua estrangeira para oferecerem um ensino de mais qualidade aos estudantes da rede pública está longe de ser condizente com a realidade do interior do estado.
 

Inicialmente não se pode negar que ao oferecer a disciplina de Língua Inglesa desde os anos iniciais é um grande salto para a educação no estado, mas a escolha de materiais e da formação dos educadores para ministrarem essas aulas, nem de longe atende a necessidade. Como formação para os professores, o governo adquiriu cursos da “EF Education First” para todos os profissionais lotados na disciplina de língua inglesa, o mesmo curso foi adquirido para os alunos do ensino médio, ou seja, a capacitação dos educadores é realizada com o mesmo material que seus alunos estudam.

O fato que vem gerando polêmica, é que o que era um presente no primeiro semestre, recebeu regras “salgadas” no segundo semestre, o profissional que não atingir o nível exigido pela SEDUC terá o valor de R$ 2.400,00 descontados de seus vencimentos. Para os professores efetivos, o prazo é de um ano, para os interinos, o prazo é reduzido pela metade, uma vez que seus contratos tem validade somente até o dia 16 de dezembro.

A redação do blog contactou cinco professores de Língua inglesa, de cinco cidades pertencentes à DRE de Juína. Esses profissionais concordaram em falar desde que suas identidades fossem preservadas para não sofrerem retaliações. Os educadores que entrevistamos estão lotados em Juina, Colniza, Juruena, Juara e Brasnorte.

Além das atividades normais on-line, o curso conta com mais 24 aulas ao vivo e em grupo e, para estar livre de ressarcir o erário o profissional deve concluir com êxito essas aulas. Um dos professores ouvidos explicou essa atividade. “O curso é interessante, o problema são essas aulas ao vivo, para entrar em uma aula dessas a gente precisa aguardar em uma fila por até 30 minutos. As vezes a gente espera para entrar e não consegue, pois há um numero muito grande de alunos esperando, considerando que é uma plataforma que atende estudantes de todas as partes do mundo. Eu só consegui acessar depois da quarta tentativa, perdi mais de três horas para fazer uma aula, perdi a conexão com a internet e voltei à estaca zero, enquanto isso meus planejamentos, minhas aulas, minhas atividades, meu lançamento no SIGEDUCA ficaram parados.”

Outros profissionais avaliam que essa formação não condiz com o material estruturado que o governo ofereceu para as aulas do ensino fundamental. Neste sentido, um professor de Brasnorte explicou que “é um curso muito bom, mas não pode ser considerado como uma formação para professores, ou estamos formando os alunos do ensino médio para professores? Antes do nosso grupo de whatsapp ser fechado, um colega de Juara havia descrito a realidade, nossas formações estão longe de atender nossas demandas, não há uma pesquisa de campo, não há um estudo, não há uma avaliação diagnóstica para saber que tipo de aulas nossos alunos precisam. O que eu consigo entender com tudo isso é que o curso é só mais uma atividade que tira mais um tempo dos professores e dificulta ainda mais o preparo de aulas que realmente darão resultados. As DREs e formadores lavam as mãos, pois não precisam preparar nada para auxiliar os professores, apenas cobrar o resultado com o relatório do curso em mãos”.


A realização de pesquisas, de estudos para oferecer aulas mais contextualizadas com os alunos de nossa região poderia ser uma saída para esse problema. Um educador de Juína explicou que “você pode observar pelos formadores que a maioria deles, em todas as DREs do estado, já perderam o contato com o chão da sala de aula há muito tempo, são pessoas que estavam na direção, nas coordenações, em cargos técnicos, nos CEFAPROS, muito raro encontrar um professor que veio da sala de aula e esse fator faz com que a teoria não tenha dialogicidade com a prática. Se você fizer um uma pesquisa no Google Acadêmico vai perceber que existem vários estudos de casos publicados, realizados em nossa região, professores de Juína e de Juara que em atos isolados, pois as DREs se omitem dessas iniciativas, publicaram suas pesquisas em revistas científicas, capítulos de livros, alguns sendo discutidos até em programas de mestrado ou seminários de educação. Mas, quem deveria fazer ou incentivar a realização de pesquisas, só quer empurrar um curso que nos distancia da sala de aula, nos deixando de mãos atadas com nossas práticas pedagógicas”.

Em Juruena, cidade onde 100% dos professores de inglês se inscreverem e fizeram o primeiro acesso no curso, também apresenta descontentamento. “Me inscrevi e realizei algumas atividades, mas não consegui fazer nenhuma aula ao vivo completa. Na maioria das vezes minha internet cai antes de entrar na sala e em outras depois que já entrei. Não vou assinar esse termo de compromisso autorizando descontar praticamente tudo que ganho em um mês, eu não pedi pra fazer esse curso. Eu até pagaria se eles oferecessem formações condizentes com o material que estou trabalhando com o sétimo, oitavo e nono ano. Percebi que o SINTEP, as equipes de gestão das escolas e professores de outras disciplinas não estão nem aí pra nos ajudar, mas isso é só o começo, depois começam a cobrar de história, de ciências, de língua portuguesa e quando for perceber todo mundo está pagando pela formação continuada.”

Por ser um ano eleitoral, ainda há aqueles que acham que as cobranças, documentos e ligações coagindo os educadores a assinarem a autorização para descontar R$ 2.400,00 de seus salários esteja diretamente ligada ao processo eleitoral. “Essa iniciativa é de alguém do contra, que quer queimar o filme do governador com os professores, essas pessoas sabem que um assunto como esse vai fermentando e acaba fazendo com que muitos votos sejam desviados para outro candidato e é isso que muitos professores vão acabar fazendo, diante dessa cobrança. É preciso considerar também que esse não é um assunto que esteja aberto a discussão, quando o professor de Juara, questionou essa cobrança e apresentou argumentos que fazem todo sentido, que explicam nossa realidade, o grupo foi bloqueado para postagens e a coordenadora de Juína, em nome da SEDUC, postou esse documento que estou te enviando, para mim fica clara a intenção de nos coagir a assinar a autorização.”


Clique aqui e leia o arquivo citado pelo professor acima e que é a resposta da DRE de Juína aos professores relacionada à cobrança pela formação continuada.

Para os professores ouvidos pelo blog, as realidades são diferentes de uma escola para outra, de uma cidade para outra e mais ainda de uma região para outra, uma das caraterísticas de uma gestão participativa para dar bons resultados é exatamente ouvir os partícipes, a atitude dos administradores do grupo de whatsapp de professores de inglês deixou claro que até se pode falar, desde que, seja de acordo com o que está sendo imposto.

“O grupo foi fechado assim que o professor de Juara questionou e apresentou a realidade que estamos vivendo. Depois de dois dias a professora postou um documento onde “respondia” parágrafo por parágrafo o questionamento do colega, o fato é que se ela tivesse preparado uma formação para os professores de inglês, seria mais proveitoso que uma resposta cheia de explicações evasivas que não somou em nada na nossa discussão, apenas deixou claro que seremos coagidos de todas as formas a assinar essa autorização. O fato, é que os professores de inglês não estão recebendo formação continuada para dar aulas nesta disciplina, e quem deveria fazê-lo está se esquivando e forçando os educadores a comprarem um curso que apesar de ser muito bom como ‘curso de inglês’ não está relacionado à pratica do magistério no ensino de língua inglesa. É um curso para quem quer aprender falar inglês a longo prazo e não um curso para professores de inglês.”.




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